A expressão "clássico da saudade" servia bem em 1989, quando Santos e Palmeiras se enfrentaram no Brasileiro. O futebol ruim no empate em 0 a 0 e a presença de apenas 11 mil pagantes no Pacaembu refletiam o 13º ano em jejum de títulos do time alviverde, que acabaria em 1993. O Santos estava no quinto ano sem ser campeão, numa fila que terminaria em 2002.
A saudade em questão era a dos anos 1960, quando os times representavam o futebol arte no país. Em 2021 não há Pelé ou Ademir da Guia, como naquela época, mas os rivais farão a primeira final paulista da história da Libertadores, coroando o ressurgimento da rivalidade na última década.
O confronto entre Palmeiras e Santos do dia 30, no Maracanã, será o sexto de mata-mata nos últimos oito anos. A terceira decisão de título.
Eles protagonizaram as finais do Campeonato Paulista (vencida pelo Santos) e da Copa do Brasil (conquistada pelo Palmeiras) de 2015. Também jogaram as oitavas de final de 2013 (classificação do Santos) e duas semifinais do Estadual: em 2016, o Santos passou nos pênaltis; o Palmeiras devolveu da mesma forma em 2018.
Os times brasileiros, donos das duas melhores campanhas na Libertadores, avançaram à decisão após eliminarem adversários argentinos. O Palmeiras, equipe mais eficiente da primeira fase, despachou o River Plate. O Santos passou pelo Boca Juniors.
O clima hostil entre ambos chegou a ser tão forte nos últimos anos que criou animosidades pessoais, como entre o atacante Ricardo Oliveira e o goleiro Fernando Prass. Lucas Lima tatuou a cobrança de pênalti que deu o título paulista de 2015 para o Santos e no fim de 2017 chegou ao Palmeiras. Os perfis dos clubes nas redes sociais trocaram farpas.
"Nunca vi caldeirão com 5.000 [pessoas]", atacou Felipe Melo ao ser xingado por torcedores santistas em um clássico na Vila Belmiro em 2017, ironizando a torcida rival.
Em termos de peso da disputa, a decisão da Libertadores será a partida mais importante da história do confronto. Mas ex-jogadores consideram difícil que seja a melhor.
"Eu adorava jogar contra o Santos. Eles tinham um timaço, com Pelé, Dorival, Mengálvio. E o nosso também não ficava barato. Eram sempre partidas sensacionais", diz César Maluco, segundo maior artilheiro da história do Palmeiras --fez 182 gols de 1967 a 1974.
"O Palmeiras era o nosso maior rival nos anos 1960. Não fosse o time deles, nós teríamos ganhado ainda mais títulos. Mas se não fosse o Santos, eles também teriam vencido muito mais", diz Dorval, ponta direita histórico do Santos (1956-1964 e 1965-1967).
De 1958 a 1969, o Santos só não foi campeão paulista em 1959, 1963 e 1966. O Palmeiras venceu nas três temporadas. Nenhum jogo está tão marcado na história quanto o realizado em 6 de março de 1958.
"Dizem que morreram cinco pessoas no Pacaembu ou ouvindo a partida no rádio. Não sei se é verdade. Foi o jogo mais emocionante em que atuei. Poucas vezes o futebol brasileiro mostrou tanta arte em campo", recorda o ponta esquerda Pepe, segundo maior goleador do Santos (403 anotados de 1954 a 1969).
A história das mortes não é comprovada, mas entrou para o folclore do futebol brasileiro. No Pacaembu, pelo Campeonato Paulista, o clássico teve três viradas no placar.
O Palmeiras saiu na frente, o Santos fez 2 a 1 e chegou a abrir 5 a 2. Com quatro gols no segundo tempo, o alviverde passou a vencer por 6 a 5, mas Pepe marcou duas vezes nos últimos cinco minutos para decretar o 7 a 6 final.
"Nós chegamos no vestiário para o intervalo ganhando por 5 a 2. O tesoureiro já separava o dinheiro do bicho dos jogadores. A gente sabia que o Palmeiras tinha um grande time, mas pensamos ser difícil perder no segundo tempo. Foi inesquecível", completa.
A virada mais marcante do Palmeiras aconteceu na terceira partida da final do Paulista de 1959. Em todos os confrontos, o Santos saiu na frente do placar, mas não ganhou. Depois de empatar em 1 a 1 e 2 a 2, o clube da capital começou perdendo a última decisão por 1 a 0, mas fez 2 a 1 com gols de Julinho Botelho e Romeiro e foi campeão.
As disputas entre as agremiações também tiveram capítulos nos bastidores. Em 1984, o Palmeiras acreditou ter sido prejudicado por um doping do meia Mario Sergio, que acabou não comprovado. O time brigava pelo título até então, mas caiu de rendimento e o Santos ficou com a taça.
Na Copa do Brasil de 2015, o Santos vivia grande momento, mas o então presidente Modesto Roma foi um dos que pediram o adiamento de 21 dias na data da primeira partida da decisão (o objetivo era aproximar os jogos de ida e volta). O Palmeiras cresceu e ficou com a taça.
Os interesses de ambos convergiram em alguns momentos. A CBF aceitou, em 2010, pedido para considerar edições da Taça Brasil, Torneio Roberto Gomes Pedrosa e Taça de Prata dos anos 1950 e 1960 como títulos brasileiros.
Santos e Palmeiras foram os principais beneficiados e se tornaram os maiores campeões nacionais na época, com oito conquistas cada um --hoje os alviverdes têm dez.
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