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sexta-feira, 27 de março de 2020

Em tempos de crise, árbitros devem ser treinados e remunerados em vez de abandonados

Anderson Daronco é um dos árbitros parados no momento de crise do futebol brasileiro — Foto: Agência i7 / Mineirão 

Em tempos de crise, falar de dificuldade para quem recebe R$ 5 mil por mês é diferente de quem recebe R$ 1 mil ou R$ 10 mil. A dificuldade de viver sem renda por um tempo é muito maior para quem ganha pouco do que para quem ganha muito. O primeiro vai precisar de dinheiro para atender suas necessidades básicas de higiene, alimentação e saúde, enquanto os últimos vão precisar ajustar sua vida a uma realidade de recessão. A mesma analogia pode ser feita entre microempresários e multinacionais.  
Mas voltando a falar daqueles que dependem da diária para ter renda, a exemplo dos árbitros, e são funcionários de grandes empresas, a exemplo das entidades de futebol, seria lógico pensar em atividades remuneradas que pudessem ser realizadas à distância com os árbitros.
A profissionalização da arbitragem é uma pauta tão antiga que eu entrei na arbitragem com a perspectiva de ser profissionalizado e saí com a decepção de não sê-lo. Não é agora, ainda mais com a severidade da crise econômica e social, que os árbitros se tornarão profissionais. Mas enquanto amadores, os árbitros podem ser socorridos financeiramente em contrapartida de alguma ação alinhada com os objetivos estratégicos do “patrão”, no caso as Federações, a CBF, a Conmebol e a FIFA.
Um exemplo básico é manter os árbitros preparados para quando as competições voltarem. Isso é, ou pelo menos deveria ser, interesse dessas instituições. Então, promover treinamentos físicos, táticos e teóricos à distância, remunerando os árbitros pelo esforço, seria algo positivo e necessário para as entidades do futebol no sentido de qualificar seus profissionais, assim como para os árbitros no sentido de manter a forma e gerar renda nesse momento de crise.
Isso é investimento de cunho esportivo e social. É claro que existem outros casos ainda mais graves de pessoas que serão demitidas por conta dessa crise, mas esse assunto extrapola e muito a esfera esportiva e se resolve com política pública.
Mas nos últimos dias, voltando ao universo do futebol, li e ouvi vários gestores do esporte falando sobre a preocupação de socorrer os clubes e de manter os contratos dos jogadores, que também é muito importante. Mas não ouvi ninguém falando de ações concretas e efetivas para socorrer os árbitros. A resposta mais simples é lavar as mãos e dizer que os árbitros são profissionais autônomos. Mas as mesmas pessoas que minimizam o problema com essa resposta são aquelas que, contraditoriamente, querem excelentes performances quando suas competições voltarem.
Todas as crises geram tantas oportunidades quanto eliminam. Sua forma de pensar e agir é que vai definir se a oportunidade vai nascer ou morrer para você e seu negócio. Geram uma grande oportunidade aqueles gestores que enxergam o árbitro como investimento que faz parte do futebol profissional, mesmo sendo o único amador. Esses são gestores que aproveitam a crise para gerar lucro social, investindo no ser humano que vai lhe gerar o lucro econômico.

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