Quando observamos no campo, pode parecer apenas um escudo diferente no peito. Por trás daquele símbolo, porém, existe uma história de dedicação, esforço e persistência de personagens que experimentam os efeitos mais extremos da paixão pelo futebol. Seus nomes? Wagner Magalhães, Rodolpho Toski, Wagner Reway, Danilo Ricardo Manis, Rejane da Silva e Deborah Correia. O que há de comum entre eles? Seriedade, trabalho e a insígnia de arbitragem da FIFA, que os seis acabaram de conquistar.
As festas de fim de ano, para eles, tiveram um motivo especial para comemoração. Danilo Manis estava com os pais à espera de 2017, quando recebeu um surpresa atrasada de Natal. O presente não foi dado, mas conquistado com aperfeiçoamento e o apoio de toda a família para superar os “espinhos” e alcançar as “flores”.
– Recebi a notícia um pouco antes do réveillon, com a família toda reunida. Foi uma emoção geral, na realização de um sonho compartilhado com o meu pai e a minha mãe. Durante a trajetória, são muitos os espinhos e poucas as flores. Sempre busquei isso e, com muita seriedade, vou honrar esse escudo que me foi entregue – disse o árbitro assistente, de 35 anos.
Deborah Correia também soube às vésperas do réveillon. Depois de entrar em campo 25 vezes, concluiu a temporada com a informação de que tinha se tornado uma árbitra FIFA. Ela renovou as energias e está pronta para os desafios.
– Recebi a notícia no dia 31. Fiquei muito feliz porque chegar ao quadro internacional é um ápice para todo árbitro. Agora, o planejamento é me dedicar a cada dia mais e estar pronta sempre que eu for convocada a atuar.
Rejane Caetano persegue essa meta há cinco anos. Desde o primeiro curso, na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), o escudo da FIFA era um objetivo. Ela contou com orientação de profissionais da área e quer escrever seu capítulo como representante da competência feminina no futebol internacional.
– É um momento sublime de celebração. Cada um de nós tem uma carreira individual e, ao mesmo tempo, em equipe. A gente abre mão de muitos momentos em família e com amigos pra chegar a esse ponto. Vou continuar com a mesma dedicação de uma iniciante – destacou Rejane, de 30 anos, que atuou em 22 partidas ao longo de 2016 e alcançou, nos testes físicos, os índices dos gêneros feminino e masculino.
Como um gol na final
O jogador de futebol pode marcar gols, acertar um lançamento longo, tomar a bola do craque, defender um pênalti... protagonizar momentos que cravam seus nomes na história do jogo. E o árbitro? Para Wagner Magalhães, de 37 anos, a conquista da insígnia da FIFA pode ser comparada a um gol decisivo.
– Todo árbitro sonha com a entrada no quadro internacional. É como um gol numa final de campeonato, pois batalha-se durante anos pra chegar e receber o reconhecimento da comissão. A maior preocupação é manter o nível, com preparação contínua – ressaltou.
Mais oportunidades
Quando concluiu o curso de arbitragem, no Mato Grosso, há cerca de dez anos, Wagner Reway acreditava que eram mínimas as chances de atuar em uma partida da Série A do Campeonato Brasileiro. Segundo ele, o afastamento dos grandes centros futebolísticos era um obstáculo quase insuperável. Os tempos mudaram. A Comissão de Arbitragem da CBF passou a dar mais atenção ao interior do país e abriu as portas para pessoas como Wagner, que, hoje, é um árbitro FIFA.
– Todo árbitro que sonha com algo a mais na carreira tem o objetivo de entrar para a lista internacional. Fiz o curso de arbitragem no Mato Grosso e, na época, a distância para este momento era muito grande até para um jogo da Série A, que dirá para ser do quadro da FIFA. A arbitragem brasileira tem mudado para melhor, com oportunidades para pessoas de todos os estados e incentivo para árbitros promissores – afirmou Reway, de 35 anos.
Doze anos de arbitragem
Rodolpho Toski projetou sua carreira desde os primeiros passos. Formou-se pela Federação Paranaense de Futebol aos 17 anos. Duas temporadas mais tarde, estava atuando na Primeira Divisão do Estadual. Aos 29, logo após se tornar internacional, já pensa nas próximas etapas: cursos da CBF, Conmebol, FIFA e, quem sabe, arbitrar em uma Copa do Mundo.
– O trabalho desenvolvido pela Comissão de Arbitragem da CBF foi decisivo. Estivemos no Equador para um curso específico aos árbitros jovens de toda a América do Sul, com instrutores internacionais. Recebi dicas, conselhos e incentivo, além de uma boa base para buscar meus objetivos. O caminho será árduo, mas vou seguir – garantiu Toski.
NOVOS BRASILEIROS NA FIFA
ÁRBITRAS
Rejane Caetano da Silva, 30 anos (RJ) – 22 partidas em 2016
“É um momento sublime de conquista. Cada um de nós tem uma carreira individual e, ao mesmo tempo, em equipe. Esse foi meu objetivo desde 2011, quando entrei no curso da FERJ. Também contei com o apoio da Simone Xavier, árbitra que está deixando o quadro da FIFA. Ela me ensinou muito, com várias dicas. Participei de um curso no Uruguai, que acrescentou conhecimento de instrutores do Brasil e outros países da América do Sul. Espero continuar aprendendo, sem esquecer de agradecer às pessoas que ajudam. Espero representar as mulheres com muita competência e dignidade. A gente abre mão de muitos momentos em família e com amigos para chegar a esse ponto. Vou continuar com a mesma dedicação de iniciante para melhorar sempre.”
Deborah Cecília Cruz Correia, 31 anos (PE) – 25 partidas em 2016
“O ano já estava sendo, extremamente, positivo. Como alcancei os índices masculino e feminino nas provas físicas, além de atuar no mínimo exigido de partidas da Federação Pernambucana, trabalhei até em jogos do futebol profissional masculino, na Série D do Campeonato Brasileiro. Fui comunicada no dia 31. Fiquei muito feliz porque chegar ao quadro internacional é um ápice para todo árbitro. Agora, o planejamento é me dedicar a cada dia mais em todos os pilares para estar pronta. Quando outras oportunidades surgirem e eu for convocada, estarei pronta a atuar.”
ÁRBITROS
Wagner do Nascimento Magalhães, 37 anos (RJ) – 27 partidas em 2016
“Todo árbitro sonha com a entrada no quadro internacional. É como um gol numa final de campeonato, pois batalha-se durante anos pra chegar e receber o reconhecimento da comissão. Soube da promoção dias antes do Natal, quando a Conmebol me convocou para a pré-temporada para a Copa Libertadores da América, em Assunção [17 a 21 de janeiro de 2017]. Além de responder ao voto de confiança, a maior preocupação é manter o nível, com preparação contínua. Vamos ficar atentos para buscar a excelência nos quatro pilares: físico, tático, técnico e mental.”
Wagner Reway, 35 anos (MT) – 24 partidas em 2016
“Todo árbitro que sonha com algo a mais na carreira tem o objetivo de entrar para a lista internacional. Fiz o curso de arbitragem no Mato Grosso e, na época, a distância para este momento era muito grande até para um jogo da Série A, que dirá para ser do quadro da FIFA. Me dediquei para aprender mais a cada situação e dar passos maiores. A arbitragem brasileiro tem mudado para melhor, com oportunidades para pessoas de todos os estados e incentivo para árbitros promissores. Em 2015, com o apoio da CBF e Conmebol, fizemos um intercâmbio na UEFA, com treinamento e atuação em jogos na Europa. Fomos aprovados com louvor. Na CBF, também tive a oportunidade de estar entre os dez brasileiros do 1º curso para árbitros jovens da América do Sul. Este é o topo até este momento, mas quero procurar melhorias dentro desse momento diferente. Estou começando a carreira internacional e vou buscar mais espaço.”
Rodolpho Toski Marques, 29 anos (PR) – 37 partidas em 2016
“Me formei pela Federação Paranaense de Futebol, aos 17 anos, e cumpri todo o ciclo, das categorias de base ao profissional. Com 19 anos, estava atuando na Primeira Divisão do Paranaense. Arbitragem nasceu como um sonho de adolescente. Comecei aos 14 anos e coloquei na cabeça que chegaria ao nível máximo. Imaginei entrar no quadro da FIFA como imagino atuar numa Copa do Mundo. Sei que exigirá ainda mais competência e esforço. O trabalho será árduo, mas vou seguir o caminho, com preparação e cursos da CBF, Conmebol, UEFA e FIFA. O trabalho desenvolvido pela Comissão de Arbitragem da CBF junto aos jovens árbitros é exemplar. Em 2015, a sede do curso para jovens foi o Brasil. No ano passado, o Equador. Este e outros trabalhos visando à renovação, com instrutores de renome do cenário internacional, têm sido decisivos para a arbitragem. Já sabemos que vem gente muito preparada por aí, pois quase 40 árbitros do Norte, Nordeste e Centro-Oeste estão sendo preparados para os próximos anos. É uma competição sadia, que nos obriga a evoluir de forma contínua.”
ASSISTENTE
Danilo Ricardo Simon Manis, 35 anos (SP) – 30 partidas em 2016
“Sempre sonhei, busquei e cheguei a esse momento de ápice. Me dedico à arbitragem, me cuidando, física e mentalmente. Assisto aos jogos em que atuo, acompanho o trabalho dos companheiros e foi subindo os degraus. A gente começa no estado, fazendo categorias de base. Depois, vamos para as finais dessas categorias. Vamos para o profissional, em divisões inferiores, até chegar à divisão principal. Em seguida, tentamos nos destacar para alcançar o parâmetro da CBF e recomeçar todo o processo, com Série D, C, B e A. Mantendo o nível alto, nos tornamos aspirantes à FIFA para, finalmente, ter a honra de colocar essa insígnia no peito. Existe muita gente competente para ocupar as vagas. É um sonho que se realiza, mas a empolgação é curta porque precisamos manter os pés no chão. Se é difícil chegar, é ainda mais se manter, com aperfeiçoamento dos pilares principais e dos idiomas fundamentais [Espanhol e Inglês] para atuação durante as partidas. Os treinamentos também são importantes, como o curso da UEFA que fizemos na Suíça, que consolidou uma parte crucial do nosso conhecimento. Recebi a notícia um pouco antes do réveillon, com a família toda reunida. Foi uma emoção geral, na realização de um sonho compartilhado com o meu pai e a minha mãe. Durante a trajetória, são muitos os espinhos e poucas as flores. Então, sendo racional, sempre busquei isso e, com muita seriedade, vou honrar esse escudo que me foi entregue.”
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