Ter virado o terceiro goleiro da Chapecoense já fez com que Marcelo Boeck se achasse injustiçado e pensasse em deixar o clube. Mas a decisão do falecido técnico Caio Júnior acabou poupando a vida do jogador. Instantaneamente, não ter sido relacionado para a trágica viagem para a Colômbia que fez 71 vítimas fatais passou a gerar em Boeck um misto de alívio e tristeza.
Um dos dez jogadores do elenco da Chape que não viajaram para a final da Copa Sul-Americana, Marcelo perdeu a posição de titular para Danilo, entre julho e agosto, e não recuperou mais o posto. Ele acabou também sendo preterido no banco de reservas por Jackson Follmann. Dois arqueiros viajaram. Danilo foi uma das 71 vítimas fatais do trágico acidente aéreo. Follmann teve a perna direita amputada e segue internado na Colômbia, mas vem se recuperando bem.
– Na hora, a gente acha que foi injustiçado, que por algum motivo que não entendemos, a gente não foi viajar. Agora a gente sabe que teve uma segunda chance e sente um misto de alívio e tristeza. Nós que ficamos aqui, que tivemos uma segunda chance, temos de dar consolo e ajuda para aqueles que precisam. Não podemos deixar que esqueçam aqueles que partiram. E, também precisamos direcionar nossas orações aos que ainda estão lutando pela vida – disse Boeck, no gramado da Arena Condá.
Com contrato válido até o fim deste ano, o então terceiro goleiro da Chape reza por seus companheiros e diz que vai fazer de tudo para continuar defendendo as cores do clube para ajudar na reconstrução do Verdão do Oeste.
– O clube necessita hoje daqueles que ficaram, para lembrarmos dos que partiram e honramos a torcida e as famílias. E eu hoje, com 32 anos, vejo que não faz mais sentido certas coisas que antes eu dava mais valor. O que vale mesmo é ter princípios, caráter e não abandonar o clube neste momento terrível. Se a Chapecoense quiser, eu estou aqui para continuar essa história. Quando a gente perde um número grande de pessoas, deixar o clube na mão não seria legal. Eu quero ajudar na reconstrução. Eu quero fazer parte disso e não deixar o clube morrer.
Questionado sobre como vai ser na hora de ter de entrar em campo novamente, Boeck disse que o mais importante no momento é exaltar a imagem dos que morreram e torcer pela recuperação de Follmann, que
– Mais do que entrar em campo, eu não posso deixar que esqueçam do Danilo, do Buião, treinador de goleiros, e do Follmann, que ainda está lutando pela vida. Eu guardo uma frase que o pai do Follmann me falou que não importa como ele volte, com uma perna ou sem as pernas, o que importa é que ele venha com vida. O futebol está em segundo plano. O Follmann, com 23 anos, uma vida toda pela frente. Que ele possa voltar com a gente para continuar essa história.
Marcelo Boeck ficou a semana toda na Arena Condá para ajudar no que fosse possível, principalmente no apoio psicológico aos familiares dos jogadores que perderam a vida.
– Quero que os familiares tentem ver em mim sempre o lado bom dos seus parentes que partiram. Estarei sempre pronto para ajudar a confortar todo mundo. Nós precisamos nos ajudar nessa hora tão dura.
Tratado como sobrevivente mesmo não tendo viajado para a Colômbia, Boeck está comovido com o carinho dos torcedores da Chapecoense e na população de Chapecó, cidade do oeste catarinense com pouco mais de 160 mil habitantes.
– A gente sai na rua e as pessoas tratam a gente como sobrevivente, mesmo que a gente nem tenha estado dentro do avião. O time sempre foi muito próximo do torcedor aqui e agora está ainda mais. É como se toda comunidade nos abraçasse.
Fonte: globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário