Estádio lotado, bandeiras, faixas, sinalizadores... O Couto Pereira vivia um clima de decisão. É como se estivesse pronto para receber o jogo entre Chapecoense e Atlético Nacional pela finalíssima da Copa Sul-Americana. Mas quis o destino que a noite de quarta-feira, dia 7 de dezembro, fosse de belas e emocionantes homenagens às 71 vítimas do acidente com o avião da Chape na terça-feira da semana passada, na Colômbia, quando Caio Júnior e seus comandados viajavam para o primeiro jogo da final.
Coxas-brancas, atleticanos, paranistas e torcedores de vários times do país juntaram-se para prestar homenagens e mandar mensagens de apoio. O clima era de harmonia. Torcedores - normalmente separados por forte esquema de segurança em dias de jogos - chegavam juntos. E chegavam em grande número. Logo no início da cerimônia, às 20h30, os seguranças precisaram fechar os portões do Couto porque o estádio já estava lotado (com exceção do setor atrás de um dos gols, que ficou fechado). Portanto, cerca de 30 mil marcaram presença.
- É muito emocionante, né? A gente saber que é um time de guerreiros, buscou com raça, um time pequeno ou médio... Para mim, é meu segundo time. Sou Chapecoense desde criancinha agora. É uma emoção muito grande - afirmou Willian Ronaldo Amaral, coxa-branca de 30 anos.
O padre João Maria, o pastor Antônio Jairo Porto Alegre e o padre colombiano Leonardo comandaram a cerimônia. Os presidentes do Coxa (Rogério Bacellar) e do Atlético-PR (Luiz Sallim Emed) e o vice-presidente do Paraná (Christian Knaut) representaram o trio de ferro. O público presente acompanhou as orações e respeitou os períodos de silêncio. Mas os torcedores também roubaram a cena. Em um dos momentos, por exemplo, gritos de "vamo, vamo, Chape" misturaram-se com a oração do "Pai nosso".
As torcidas deram um show à parte. Durante o hino nacional, uma camisa gigante da Chape cobriu parte da arquibancada nos três anéis do Couto. Antes mesmo de 21h45, quando a bola rolaria, os presentes já gritaram "é campeão", o nome do técnico Caio Júnior (ex-Paraná Clube e uma das 71 vítimas) e várias músicas do clube catarinense. Quando os refletores do Couto apagaram, já na parte final da cerimônia, sinalizadores e luzes de celulares deram o clima de decisão. Faltava "apenas" o jogo...
Na cerimônia, três momentos chamaram especial atenção e emocionaram os presentes. Primeiro, 71 balões em formato de estrelas tomaram os céus da capital paranaense. Depois, 71 tiros com fogos de artifício. Por fim, quando 22 crianças (representando os titulares de Chapecoense e Atlético Nacional) formaram um círculo com velas e, às 21h45, quando a bola deveria rolar para a grande decisão da Sul-Americana, deram o pontapé inicial simbólico. Representando, por que não, o renascimento após essa tragédia.
Os vizinhos colombianos também receberam as devidas homenagens. Uma grande faixa exibia a mensagem "o povo colombiano tem nosso respeito". Alguns brasileiros ainda vestiram a camisa do Atlético Nacional, que também promoveu emocionante homenagem à Chapecoense na semana passada e que virou, para muitos, também virou um segundo (ou terceiro) time.
- Era um time que eu não acompanhava muito, mas as atitudes deles mostraram a humanidade. A partir de semana passada, é mais um time que eu vou levar para o resto da vida - afirmou o curitibano Maicon Vinícius Matos, de 30 anos, que vestia a camisa do clube colombiano.
No fim, ficou a sensação de um vazio ao olhar para o campo e não ver Chapecoense e Atlético Nacional disputando o título. Mas ficou também a lição de humanidade, respeito e solidariedade. A noite de 7 de dezembro ficará para sempre na memória. O dia em que um estádio lotou para uma final que, infelizmente, não aconteceu...
Fonte:globo.com
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